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A Confluência entre a ABNT NBR 10004 e a Estratégia Global de Sustentabilidade


 

A Confluência entre a ABNT NBR 10004 e a Estratégia Global de Sustentabilidade

Introdução Executiva: A Confluência entre a Norma Nacional e a Estratégia Global de Sustentabilidade

Contexto e Objetivo do Relatório

A gestão de resíduos sólidos é uma das pedras angulares da sustentabilidade corporativa e da conformidade regulatória. No Brasil, essa gestão é fundamentalmente orientada pela ABNT NBR 10004, uma norma técnica que estabelece os critérios para a classificação de resíduos sólidos.1 A norma serve como a base para o gerenciamento adequado dos materiais descartados, minimizando riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública. No entanto, o cenário normativo e ambiental global evoluiu significativamente, e a versão de 2004 da ABNT NBR 10004, embora historicamente relevante, foi recentemente substituída por uma versão atualizada.3

O presente relatório tem como objetivo ir além de uma mera análise da versão anterior, a ABNT NBR 10004:2004. O foco principal é aprofundar a compreensão da nova ABNT NBR 10004:2024 e seus impactos estratégicos para o setor empresarial. A análise não se limita à dimensão técnica da classificação de resíduos, mas se expande para explorar como essa norma nacional se conecta com a estrutura de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) de padrão internacional, a ISO 14001.5 A conformidade com a NBR 10004:2024 é apresentada não apenas como uma obrigação legal, mas como uma oportunidade estratégica para as organizações fortalecerem seus sistemas de gestão ambiental, aprimorarem seu desempenho e alinharem-se às crescentes demandas por sustentabilidade.

Visão Geral da Análise

A estrutura deste relatório está dividida em três partes principais para fornecer uma visão abrangente e contextualizada. A primeira parte traça a evolução da ABNT NBR 10004, detalhando a versão de 2004 como o padrão histórico e, em seguida, aprofundando-se na nova versão de 2024, suas principais mudanças, e os desafios da transição. A segunda parte foca na ISO 14001, descrevendo seu propósito, os princípios fundamentais de um SGA, e a estrutura de requisitos da versão de 2015, com ênfase especial na liderança e na perspectiva do ciclo de vida. Por fim, a terceira parte explora o futuro da gestão sustentável, abordando a integração de sistemas de gestão (SGI) e o papel das normas no enfrentamento de desafios globais como a economia circular e as mudanças climáticas.

A simples atualização da ABNT NBR 10004 não é apenas uma mudança regulatória isolada, mas um catalisador que exige que as empresas reavaliem a eficácia de seus Sistemas de Gestão Ambiental. A nova norma, com sua metodologia mais rigorosa e alinhada a padrões globais como o Sistema Globalmente Harmonizado (GHS), força as organizações a questionar se seus sistemas de gestão existentes são robustos o suficiente para gerenciar a complexidade recém-introduzida. A conformidade com a nova norma nacional, portanto, se torna um teste prático da maturidade e eficácia do SGA de uma empresa, impulsionando a melhoria contínua e a integração da gestão ambiental na estratégia central do negócio.

Parte I: A Classificação de Resíduos no Brasil: Da NBR 10004:2004 à Transformação de 2024

A Norma ABNT NBR 10004:2004 – O Padrão Histórico

A ABNT NBR 10004:2004 foi, por duas décadas, a principal norma brasileira para a classificação de resíduos sólidos. Seu propósito era definir os critérios para a categorização de resíduos com base em seus riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública, permitindo um gerenciamento adequado e seguro.1 A norma de 2004 definia resíduos sólidos como aqueles nos estados sólido ou semissólido, provenientes de uma variedade de atividades, incluindo as industriais, domésticas, hospitalares e agrícolas.7 Resíduos radioativos, no entanto, eram excluídos de seu escopo, pois são de competência exclusiva da Comissão Nacional de Energia Nuclear.2

A classificação dos resíduos pela versão de 2004 era realizada em duas classes principais: Classe I (Perigosos) e Classe II (Não Perigosos). A Classe I era atribuída a resíduos com grau de periculosidade devido a características como inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenicidade.9 A Classe II, por sua vez, era subdividida em duas categorias: Classe II-A (Não Inertes) e Classe II-B (Inertes).8 Resíduos Classe II-A incluíam aqueles que podiam se decompor, como lodo de tratamento de água ou resíduos combustíveis, enquanto os Classe II-B eram aqueles que não sofriam alterações físicas, químicas ou biológicas em aterros, como o entulho de construção.10 A norma de 2004 foi amplamente utilizada como base para a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e tinha como referência o Código de Regulamentos Federais (CFR) dos Estados Unidos, o que limitava sua adaptação às particularidades do contexto brasileiro.7

A Revolução de 2024: Uma Norma Estratégica e Alinhada ao Cenário Global

Após duas décadas sem atualizações, a ABNT NBR 10004 foi profundamente revisada e publicada em 27 de novembro de 2024.4 A nova norma, que se tornou a referência nacional para a classificação de resíduos, traz uma série de mudanças significativas que visam alinhar o Brasil às práticas internacionais mais modernas e aos princípios de sustentabilidade e economia circular.3 A estrutura da nova norma é agora dividida em duas partes complementares: a ABNT NBR 10004-1:2024, que define os requisitos de classificação, e a ABNT NBR 10004-2:2024, que estabelece o Sistema Geral de Classificação de Resíduos (SGCR).3

As principais alterações incluem:

  • Simplificação da Nomenclatura: A norma extingue as antigas subclasses II-A e II-B, simplificando a classificação para duas categorias principais: Classe 1 – Resíduos Perigosos e Classe 2 – Resíduos Não Perigosos.3 A nova nomenclatura, além de simplificar, torna a categorização mais direta e compreensível.

  • Alinhamento Internacional e Autonomia: A nova norma se desvincula de referências estrangeiras como o CFR dos EUA, permitindo uma maior adaptação ao contexto brasileiro.4 Além disso, incorpora os conceitos do Sistema Globalmente Harmonizado de Classificação e Rotulagem de Produtos Químicos (GHS), um sistema global que garante que a classificação de resíduos no Brasil esteja alinhada com as melhores práticas internacionais.4

  • Novos Critérios de Periculosidade: A ABNT NBR 10004:2024 expande os critérios para a avaliação de periculosidade.4 A nova metodologia inclui a avaliação da presença de Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs), além de uma abordagem mais detalhada e complexa para a análise da toxicidade.3

A classificação de resíduos, sob a nova norma, é um processo de quatro passos:

  1. Enquadramento do Resíduo: O material deve ser enquadrado de acordo com a Lista Geral de Resíduos (LGR), conforme o Anexo A da Parte 2 da norma.3

  2. Avaliação de POPs: Deve-se verificar a presença de Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs), de acordo com os valores estabelecidos no Anexo C da Parte 2.3

  3. Avaliação Físico-Química e Infectocontagiosa: São avaliadas as propriedades que conferem periculosidade, como inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade ou patogenicidade.3

  4. Avaliação da Toxicidade: Este passo, mais detalhado na nova versão, avalia se o resíduo possui alguma substância que o caracterize como tóxico.3

A responsabilidade pela correta classificação do resíduo e pela emissão do Laudo de Classificação do Resíduo (LCR) é do gerador, e o documento deve ser assinado por um profissional técnico qualificado.3

Impactos e Desafios da Transição para o Setor Empresarial

A transição para a nova norma ABNT NBR 10004:2024 não é imediata. Foi estabelecido um período de transição que se estende até 31 de dezembro de 2026, durante o qual as versões anteriores (NBR 10004:2004, NBR 10005:2004 e NBR 10006:2004) ainda podem ser utilizadas.3 Contudo, a adaptação proativa é fundamental, pois, após essa data, somente a nova norma será válida.

A adaptação às novas exigências impõe uma série de desafios práticos para as empresas. O primeiro é a necessidade de reclassificar todos os resíduos gerados, um processo que exige uma abordagem mais criteriosa e, muitas vezes, a realização de novos testes laboratoriais.4 Em seguida, as Fichas de Dados de Segurança de Resíduos (FDSRs) e o Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS) das empresas devem ser atualizados para refletir a nova classificação e os critérios de periculosidade expandidos.4 A professora Samara Vital, engenheira ambiental, ressalta que essa transição, embora represente um avanço, é um "grande desafio para os profissionais da área".16

A nova norma, contudo, também cria oportunidades. Ao exigir uma classificação mais precisa e detalhada dos resíduos, a ABNT NBR 10004:2024 atua como um mecanismo de incentivo à economia circular e à perspectiva de ciclo de vida do produto. A classificação mais precisa facilita a identificação de materiais que podem ser recuperados e reciclados, impulsionando a implementação de sistemas de logística reversa e o desenvolvimento de produtos com menor impacto ambiental.4 Essa abordagem mais detalhada força o gerador a ter um entendimento mais profundo de seus processos, produtos e do ciclo de vida, o que é a essência dos requisitos da ISO 14001:2015.17

Outro impacto significativo da nova norma, especialmente para o setor de construção civil, é a exclusão de solos não contaminados de terraplanagem da categoria de resíduos sólidos. Essa mudança ratifica a ideia de que esses materiais, quando movimentados e aplicados no próprio local da obra, não se enquadram na norma. Isso pode gerar uma redução de custos e otimizar a ocupação de aterros, que podem ser reservados para resíduos propriamente ditos.15 A seguir, a Tabela 1 oferece um resumo comparativo das classificações de resíduos entre as duas versões da norma.

Critério de ComparaçãoABNT NBR 10004:2004ABNT NBR 10004:2024
Estrutura da NormaDocumento único.Dividida em duas partes (Parte 1: Requisitos e Parte 2: SGCR).
Nomenclatura da ClassificaçãoClasse I (Perigosos) e Classe II (Não Perigosos), com subclasses II-A (Não Inertes) e II-B (Inertes).Classe 1 (Perigosos) e Classe 2 (Não Perigosos).
Base NormativaBaseada em referências estrangeiras (CFR dos EUA).Desvinculada de referências estrangeiras, alinhada com o GHS.
Metodologia de ClassificaçãoNão é explicitado um processo de múltiplos passos na documentação consultada.Processo de quatro passos (LGR, POPs, Propriedades Físico-Químicas, Toxicidade).
Critérios de PericulosidadeInflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenicidade.Expande os critérios, incluindo a avaliação de Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs) e uma análise mais detalhada da toxicidade.
ResponsabilidadeClassificação e emissão de laudo são responsabilidades do gerador.Mantida a responsabilidade do gerador e do profissional técnico.
Período de TransiçãoSubstituiu a versão de 1987.Em transição até 31 de dezembro de 2026.

Parte II: A ISO 14001 e o Ecossistema Global da Gestão Ambiental

O Propósito e os Princípios Fundamentais da ISO 14001

A ISO 14001 é o padrão internacionalmente reconhecido para a implementação de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA).20 Seu propósito é fornecer às organizações de todos os portes e setores uma estrutura sistemática para gerenciar suas responsabilidades ambientais de forma eficaz.20 O objetivo é ajudar as empresas a controlar os impactos ambientais de suas atividades, reduzir a geração de poluentes e, ao mesmo tempo, obter vantagens competitivas.21

Os princípios de um SGA, frequentemente descritos em documentos de Política Ambiental, são a espinha dorsal da ISO 14001 e incluem:

  • Sustentabilidade: Assegurar que o uso dos recursos ambientais seja socialmente justo e economicamente viável para as gerações atuais e futuras.23

  • Prevenção e Precaução: Adotar medidas antecipadas para prevenir, atenuar ou eliminar efeitos negativos de intervenções no meio ambiente, especialmente contra riscos potenciais que ainda não são totalmente compreendidos.23

  • Melhoria Contínua: Promover um aprimoramento constante no desempenho ambiental da organização, institucionalizando conhecimentos e práticas.23

  • Comprometimento da Direção: A alta direção deve manifestar responsabilidade pelo SGA, integrando-o nas atividades operacionais e garantindo os recursos necessários para o sucesso do sistema.24

A certificação ISO 14001 traz uma série de benefícios internos e externos. Internamente, a norma pode gerar eficiência operacional, otimizar a gestão de resíduos e a conservação de recursos, e impulsionar a motivação e o engajamento dos colaboradores.20 Externamente, a certificação melhora a reputação da marca, atrai clientes e investidores conscientes, e proporciona uma vantagem competitiva em um mercado cada vez mais exigente.26 Além disso, ajuda a garantir o cumprimento regulatório, reduzindo o risco de multas e penalidades.20

A Estrutura da ISO 14001:2015 e Requisitos Chave

A versão mais recente da norma, a ISO 14001:2015, representa um avanço significativo em relação à sua antecessora, a versão de 2004. As principais mudanças foram impulsionadas pela adoção do Anexo SL, uma estrutura de alto nível (HLS) que padroniza as cláusulas de todos os sistemas de gestão ISO, facilitando a integração.17 A norma de 2015 está organizada em 10 cláusulas principais, seguindo o ciclo Plan-Do-Check-Act (PDCA) para promover a melhoria contínua.5

Os requisitos críticos da norma incluem:

  • Cláusula 4: Contexto da Organização: Esta cláusula exige que a organização identifique os fatores internos e externos que podem afetar o SGA, como condições ambientais (alterações climáticas, escassez de recursos), questões legais, sociais e políticas, e as necessidades e expectativas de todas as partes interessadas, incluindo clientes, fornecedores, a comunidade e órgãos reguladores.29

  • Cláusula 5: Liderança: A norma de 2015 coloca um foco muito maior na liderança da alta direção. A gestão de topo (definida como a "pessoa ou grupo de pessoas que dirige e controla uma organização no mais alto nível" 31) deve demonstrar liderança e comprometimento, garantindo que o SGA seja integrado na estratégia de negócio e que os recursos necessários sejam alocados.17 A falta de comprometimento da liderança é citada como um dos principais desafios para o sucesso da implementação do SGA.33

  • Cláusula 6: Planejamento: Esta cláusula exige que a organização planeje ações para abordar os riscos e oportunidades identificados no contexto da organização.29 Um requisito central introduzido na versão de 2015 é a

    perspectiva de ciclo de vida.29 Isso significa que a empresa deve considerar os aspectos ambientais em todas as etapas do ciclo de vida de seus produtos e serviços, desde a aquisição de matérias-primas até o descarte pós-uso.17

A conexão entre a norma nacional ABNT NBR 10004:2024 e a ISO 14001:2015 é de natureza simbiótica. O comprometimento da liderança (Cláusula 5) e a análise de riscos e oportunidades (Cláusula 6) são os mecanismos essenciais para que uma empresa possa absorver a complexidade da nova norma de resíduos. Sem o apoio da alta direção, os desafios de alocação de recursos financeiros e de capacitação da equipe se tornam intransponíveis.33 A liderança é quem autoriza a reclassificação de resíduos, a atualização de documentos e os treinamentos, garantindo que a conformidade seja vista como parte da estratégia de negócio. Portanto, a exigência de uma classificação de resíduos mais rigorosa pela NBR 10004:2024 é, na prática, um teste de estresse para a eficácia do SGA e um indicativo direto da maturidade da gestão da empresa.

Parte III: O Futuro da Gestão Sustentável: Integração e Tendências

A Vantagem Competitiva da Gestão Integrada de Sistemas (SGI)

A gestão integrada de sistemas (SGI) é uma abordagem que combina múltiplos sistemas de gestão em uma única estrutura unificada.35 Essa estratégia permite que as organizações trabalhem de forma coesa, otimizando recursos financeiros, de tempo e humanos, e promovendo uma visão holística dos processos empresariais.36 As normas ISO 9001, ISO 14001 e ISO 45001 são candidatas ideais para a integração, pois compartilham uma estrutura de alto nível (HLS) comum, facilitando a implementação de múltiplos padrões simultaneamente.36

A seguir, a Tabela 2 compara os requisitos e focos das três normas principais, ilustrando a sinergia entre elas.

NormaFoco PrincipalRequisitos Chave Compartilhados (HLS)Benefícios Principais
ISO 9001Qualidade e Satisfação do Cliente.Contexto da Organização, Liderança, Planejamento, Suporte, Operação, Avaliação de Desempenho, Melhoria.Aumento da eficiência operacional, satisfação e fidelidade do cliente, redução de desperdícios e erros.
ISO 14001Impacto Ambiental e Sustentabilidade.Contexto da Organização, Liderança, Planejamento, Suporte, Operação, Avaliação de Desempenho, Melhoria.Redução da pegada ambiental, conformidade regulatória, melhoria da reputação da marca, economia de recursos.
ISO 45001Saúde e Segurança Ocupacional.Contexto da Organização, Liderança, Planejamento, Suporte, Operação, Avaliação de Desempenho, Melhoria.Minimização de riscos e acidentes no local de trabalho, promoção do bem-estar dos colaboradores, cultura de segurança.

A integração dessas normas resulta em uma abordagem mais eficaz e eficiente, em vez de manter sistemas de gestão individuais.36 Por exemplo, uma empresa que já é certificada pela ISO 9001 tem a implementação da ISO 14001 e da ISO 45001 simplificada devido aos elementos comuns na HLS, como a cláusula de Liderança, que exige o comprometimento da alta direção em todos os sistemas.36

O Papel da ABNT NBR 10004 e da ISO 14001 nas Tendências Globais

As normas de gestão ambiental, como a ISO 14001, estão intrinsecamente ligadas a tendências globais de sustentabilidade. A ISO 14001:2015, com sua exigência de uma perspectiva de ciclo de vida, incentiva a adoção da economia circular.17 O conceito de economia circular foca em maximizar a utilização de recursos, minimizar o desperdício e promover a reutilização e a reciclagem de materiais. A ISO 14001 serve como uma ferramenta para iniciar e implementar essa política, exigindo que as empresas avaliem os impactos ambientais de seus produtos e serviços desde a concepção até o descarte.19

Além disso, a ISO 14001 desempenha um papel crucial no combate às mudanças climáticas.17 A norma exige que as empresas mapeiem e controlem seus impactos, como as emissões de gases de efeito estufa, e tomem medidas para mitigá-los.40 A abordagem sistemática da norma impulsiona a inovação e o desenvolvimento de soluções mais sustentáveis para um futuro de baixo carbono.17

O cenário de normalização continua a evoluir. Uma nova revisão da ISO 14001 está em desenvolvimento, com previsão de lançamento para março de 2026.42 Espera-se que essa revisão intensifique o foco em temas como mudanças climáticas e economia circular, alinhando a norma ainda mais com conceitos como ESG (Ambiental, Social e Governança) e ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável).42 As mudanças, embora esperadas como moderadas nos requisitos, sinalizam a crescente importância de uma abordagem proativa na gestão ambiental.

Fatores Críticos e Recomendações Estratégicas para as Organizações

A implementação da ISO 14001 e a adaptação à nova ABNT NBR 10004:2024 enfrentam desafios que podem ser agrupados em três categorias: pessoal, procedimentos de rotina e aspectos financeiros.33 A falta de comprometimento da direção e a resistência dos funcionários a novas práticas são frequentemente citadas como os maiores obstáculos.33 A alocação de recursos financeiros e tecnológicos para a transição também é um desafio significativo, especialmente em empresas menores.34

A superação desses desafios passa por uma abordagem estratégica e informada. A busca por consultoria especializada é crucial, pois consultores experientes podem traduzir os requisitos das normas em ações práticas para a empresa, economizando tempo e evitando erros caros.6 Os custos de certificação e implementação variam amplamente, dependendo do tamanho, complexidade e do uso de consultores externos.45 Os custos iniciais para desenvolvimento e implementação de um SGA podem variar de R$ 20.000 a R$ 100.000, enquanto a avaliação inicial pode custar entre R$ 5.000 e R$ 20.000, dependendo da complexidade da organização.45 Para garantir a credibilidade do processo, é fundamental escolher um organismo certificador acreditado.47 O sistema CERTIFIQ do INMETRO serve como uma base de dados pública para buscar empresas certificadas e organismos acreditados no Brasil, garantindo a transparência e a confiabilidade.49

Conclusão: Rumo a um Futuro de Conformidade Estratégica e Sustentabilidade Integrada

A transição da ABNT NBR 10004 de 2004 para a versão de 2024 é um evento de alta importância estratégica que redefine a gestão de resíduos sólidos no Brasil. A nova norma, com sua abordagem mais rigorosa e seu alinhamento com padrões globais, como o GHS, e a incorporação de novos critérios como os POPs, eleva o patamar da conformidade regulatória e exige uma reavaliação completa dos processos existentes nas empresas.

A análise deste relatório demonstra que a conformidade com a ABNT NBR 10004:2024 e a certificação ISO 14001 não são obrigações isoladas, mas sim partes de um ecossistema integrado de gestão ambiental. A norma nacional atua como um pilar essencial para um SGA robusto, fornecendo os dados e a estrutura técnica necessários para que os requisitos estratégicos da ISO 14001 sejam efetivamente implementados. A fusão dessas duas normas cria um ciclo virtuoso: a conformidade com a NBR 10004 se torna uma oportunidade para aprimorar o SGA da ISO 14001, e um SGA maduro, por sua vez, permite uma melhor gestão de riscos e a identificação de oportunidades de negócio.

Em última análise, a gestão ambiental não deve ser vista como um custo ou uma burocracia, mas como um investimento na resiliência e na competitividade da organização. A capacidade de uma empresa de se adaptar a normas em evolução, como a ABNT NBR 10004:2024, e de integrar um Sistema de Gestão Ambiental sólido, como o da ISO 14001, demonstra um compromisso genuíno com a sustentabilidade. Esse compromisso não apenas protege o meio ambiente, mas também fortalece a reputação da marca, otimiza operações e constrói uma base sólida para a inovação e o crescimento no futuro.

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